14 de mar. de 2012
Revista da Editora Manchete, Pais e Filhos!, completa um ano sem ter crianças negras na capa.
(março de 2012)
Esta é edição deste mês de março,
2012, da Revista Pais & Filhos, Editora Manchete. Feita em São
Paulo, tem circulação e renome nacional nesta área de cuidado infantil,
ao lado da Revista Crescer. Fofinho, não? Aliás, todas as crianças são
fofíssimas, despertando aquela vontade de encher de cheiro aquela
bolinha rosa, loira e de olhos azuis. Ops...como assim? É, então,
amig@s. Algo muito simples: para a Revista Pais & Filhos, só os
brancos nascem, e preferencialmente os brancos loiros e de olhos claros.
Só as crianças brancas são fofinhas. Num país em que @s negr@s são,
pelo menos, 51% da população, nenhuma fofinha criança negra -
nenhumazinha - recebeu espaço de capa da Pais & Filhos no tempo de
um ano inteiro. Mostro a vocês aqui, retrospectivamente, as capas de
março de 2012 a março de 2011 - 13 edições completamente brancas. Para
um país 100% branco talvez - reforço, talvez - isso não fosse tão indecente.
(fevereiro de 2012)
Acontece que somos um país de
maioria negra. Em alguns estados, a população negra é até pequena; em
outros, predominante. Negras e negros de várias tonalidades, vários
tipos corporais, diversas etnicidades; cabelo pixaim, enrolado,
misturado, nariz mais largo ou mais fino, negritudes diversas que no
entanto são reconhecidas socialmente pela sua matriz africana e toda a
história que comporta o corpo negro. Essa história indesejável, para a
matriz europeia, tem sido constantemente relegada ao esquecimento das
páginas escritas - mas não é esquecida de nenhum modo: porque, se não
nas páginas dos historiadores clássicos, no corpo das pessoas que a
carrega. Por isso o corpo d@ negr@ é tão negado, invisibilizado. Porque
conta uma história indesejável a uma ideologia hegemonicamente branca.
(janeiro de 2012).
E se tem algo que a história negra
carrega é acerca do fundamento da família. A família, nos sentidos
afro-brasileiros (assim como nos povos nativos), é quem sustenta,
congrega, fortalece, permite existir e resistir. A mãe que conduz os
filhos, pelejando duramente para garantir suas vidas neste mundo sob
leis humanas tão desumanas, é a mulher negra que centraliza a força da
casa, do terreiro, da comunidade. Se não é mãe de sangue, é
mãe-madrinha, mãe-de-santo, mãe-vó. A família, para os povos negros, tem
a força da origem e da continuidade. É o espaço em si de guarnição -
espiritual e social. Daí que se formam quilombos: numa casa ou numa rua,
mães, tias, avós, irmãos, primos e primas se aquilombam, sem a
classificação dicotômica de "família nuclear" e "família extensa", comum
à família da cultura burguesa.
(edições de dezembro a setembro de 2011)
Por que não temos imagens de
crianças negras em um ano de edições da Revista Pais & Filhos.
Porque pais, mães e filhos e filhas negr@s não interessam à revista. Ela
simplesmente assume o padrão racista do que branco desejável, negando
terminantemente a negritude brasileira. O maior problema dessa postura
racista é que perpetua a negação da família negra aos olhos da sociedade
em geral. Primeiramente, impõe uma imagem familiar que exclui os pais e
filhos negros; nega, portanto, às mães negras (porque às mães é
destinada a revista, apesar do título) se sentirem parte de uma dimensão
materna - o cuidado infantil. Consequentemente, nega aos bebês negros o
direito de pertencerem a este universo dos anjinhos, dos serezinhos que
devem receber cuidados e mimos especiais.
(edições de agosto a abril de 2011)
Bem, está chegando a hora de
preparar o almoço. Deixo vocês, leitoras e leitores, com estas imagens e
algumas reflexões. Em um ano apenas de publicação, o que somente uma
revista de maternagem e cuidado infantil foi capaz de semear? Não vejo
bons frutos nisto.
Luther King, dá uma dica a mais de como realizar teu sonho!
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