2 de mar. de 2009

EUA devem boicotar conferência da ONU sobre racismo

WASHINGTON - Os EUA deverão boicotar a próxima conferência das Nações Unidas sobre racismo, a não ser que o documento final do encontro elimine qualquer referência a Israel ou à ideia de compensar descendentes de escravos.

O Departamento de Estado também informou que o governo do presidente Barack Obama vai participar como observador das reuniões do Conselho de Direitos Humanos da ONU, organismo que foi boicotado pelos EUA durante os oito anos do governo de George W. Bush por causa de suas declarações anti-Israel.

A conferência sobre racismo, marcada para abril em Genebra (Suíça), será uma continuação de um controvertido encontro realizado em 2001 em Durban (África do Sul). Os representantes dos EUA e de Israel se retiraram daquela conferência em protesto contra o rascunho do documento final, que equiparava o sionismo (movimento que levou à criação do Estado de Israel em terras árabes, em 1948) a uma forma de racismo.

Tanto Israel como o Canadá já haviam anunciado que vão boicotar a reunião de Genebra. O governo Obama enviou representantes às reuniões preparatórias e anunciou, na última sexta-feira, que o rascunho da declaração final em discussão é muito similar ao texto de 2001, que Washington havia considerado inaceitável.

"Lamentavelmente, o documento que está sendo discutido foi de mal a pior; o rascunho não tem salvação. Como consequência disso, os EUA não vão se envolver em novas negociações sobre esse texto, nem participarão de uma conferência sobre a base desse texto", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Robert Wood.

Fonte: http://www.estadao.com.br/internacional/not_int331331,0.htm

Observatório Racial registra 90 ocorrências em 4 dias

A quarta edição do Observatório da Discriminação Racial e da Violência contra a Mulher mudou a metodologia de trabalho este ano. Ao contrário das edições anteriores, o projeto, desta vez, não está voltado para a pesquisa. No Carnaval 2009, o Observatório funciona como uma espécie de central de denúncias que envolvam qualquer tipo de racismo.

Com um posto central de atendimento na Ladeira de São Bento, o Observatório já registrou, desde a quinta-feira até as 9 horas de hoje (segunda-feira), 90 ocorrências. A maioria delas está relacionada à violência contra ambulantes, catadores de latinhas e cordeiros. Equipes volantes fazem plantão nas principais áreas da festa e mais de 50 profissionais estão envolvidos no projeto. Entre eles, advogados, comunicadores, assistentes sociais, técnicos de saúde e servidores públicos que trabalham simultaneamente.

Fonte: http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2009/02/23/Bahia/Observatorio_Racial_registra_90_o.shtml

Simpósio Internacional Brasil-África de Ensino Superior

Estão abertas, até 8 de março, as inscrições para apresentação de trabalhos no Simpósio Internacional Brasil-África de Ensino Superior. Serão aceitos resumos em qualquer área, com prioridade para estudantes africanos ou alunos brasileiros que desenvolvam trabalhos sobre a África. O encontro será realizado dos dias 22 a 24 de abril na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e terá em sua programação palestras de pesquisadores africanos e brasileiros, além de eventos culturais. Informações pelo telefone (81) 2126 8284 e no site

Fonte: www.simposiobrasilafrica.blogspot.com
Brasília, 20 de fevereiro de 2009
Começou a hora do show*

Em 2000, o cineasta afro-americano Spike Lee finalizou um dos seus filmes mais duros, A Hora do Show, em que satiriza a indústria cultural americana, através da crítica à representação dos negros num programa de TV. Infelizmente, a situação do Carnaval baiano permite analogia entre o branco pintado de negro em O cantor de jazz, filme citado por Lee em A Hora do Show, e os cantores e cantoras que, a partir da mimetização do imaginário, da fala, da criatividade visual, musical e rítmica de artistas negros baianos, se inserem na mídia e no mercado “pintados” de negros e negras da Bahia.

A renovação, atualização e releitura do Carnaval baiano apóiam-se fortemente na “africanização” da festa. A expressão visual, as roupas usadas no Carnaval e no cotidiano, a moda da rua, as gírias, as expressões artístico-culturais, a inventividade do negro e da negra são utilizados pelo mercado de “novidades” carnavalescas.

A reafricanização do Carnaval baiano se registra a partir dos blocos de índio, nos anos 70. É preciso lembrar que houve momentos de perseguição dos poderes públicos aos Apaches do Tororó e aos Comanches. A criação e resistência dos blocos de índios foram fundamentais para a etapa seguinte.

Em 1974, chega à avenida o Ilê Aiyê, depois vêm o afoxé Badauê, o Olodum, o Malê Debalê e, ao longo do tempo, em outras comunidades marcadamente negras e periféricas, vimos surgir Ara Ketu, Timbalada, Didá.

Estas e outras entidades, seja nas estampas, alegorias, repertórios ou musicalidade, bebem diretamente da fonte da África baiana, África recriada, imaginada, atualizada a partir de referências da juventude negra e do seu cotidiano nas periferias.

O fenômeno do enegrecimento do Carnaval encontra-se, hoje, noutro patamar.
De forma semelhante a outras manifestações originalmente referenciadas na cultura negra, o processo de inserção no mercado descaracteriza os produtos a partir da ressignificação e apropriação destas expressões artísticas por artistas e instituições não-negros, inclusive as públicas.

O Carnaval da Bahia pinta o rosto de negro, mas os espaços mais cobiçados e lucrativos, a exposição midiática privilegiada, o inegável resultado financeiro fica nas mãos e bolsos brancos ou quasebrancos.

A elite do mercado do Carnaval agiu rápida e lucrativamente ao explorar e incorporar o acervo negro baiano. A incorporação virou símbolo da Bahia e da propagada baianidade que seduz o Brasil e o mundo, através, principalmente, dos “pintados” de negro, uma mercadoria de forte receptividade, consumida com alegria pela indústria cultural e de turismo. Ao mesmo tempo, a maioria das mulheres e jovens negros cumpre papéis subalternizados na festa: comércio informal, cordas, coleta de latinhas e pets, refugos dos que pagam para usufruir da hora do show.

Em alguns casos, ainda, é preciso “embranquecer” o artista negro para ter sucesso. É preciso adotar práticas da elite do Carnaval baiano para “aparecer”: mudam-se os formatos dos shows, os locais dos ensaios, acrescentam-se elementos que representem diversidade racial, elitiza-se o produto para que ele seja melhor aceito pela mídia e pelo mercado. Alguns, que não aderem às práticas do Carnaval branco, são as exceções tão necessárias para tornar a festa ainda mais bonita e – aparentemente – legitimamente afrobaiana.

O desafio para os artistas negros e negras da Bahia é duplo: o primeiro, como todo artista, é estar atento e antenado para – a partir da arte – colocar o povo em suas obras; o segundo, mais cruel e oneroso, é ver sua originalidade reverter em ganhos para outros grupos, outras pessoas, ver sua obra obter espaços a partir de rostos “pintados” de negro.
Não é uma questão de cópia ou plágio.

É algo que escapa da legislação de direitos autorais, é mimetização e ressignificação de um patrimônio imaterial, ao mesmo tempo individual e coletivo.

Embora não haja ilegalidade nessas práticas de apropriação, há a imoralidade, que produz a deslegitimação dos processos de organização e expressão cultural da juventude negra da Bahia.
Para nós, que vimos nascer, crescer e sobreviver a pulsante originalidade desta recriação da África na Bahia, nos resta usar a voz. A pergunta é: quem são as vítimas na hora do show ?
*Por Luiz Alberto - Deputado Federal (PT/BA), ex-secretário de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia

Fonte: Jornal A Tarde / Opinião - Página 3 - Publicado em 20 de fevereiro de 2009
Mais informações:
Assessoria - Deputado Federal Luiz Alberto (PT/BA)Daniela Luciana (DRT/BA 1998) / 61 8179-9316