27 de ago. de 2010

AMAZON TIRA GAME DE 'CAÇA PALAVRAS' DO KINDLE POR USO DE TERMO RACISTA

Game do Kindle 'Every word' foi retirado do ar por conta de palavras impróprias. (Foto: Divulgação)Uma palavra de cunho racista que pode ser utilizada em uma das fases do game de “caça-palavras” “Every word”, do leitor digital Kindle, fez com que a Amazon tirasse o produto do ar.

O game permite que o jogador forme uma série de palavras baseado em seis letras aleatórias que aparecem na tela. Quanto mais palavras forem criadas no menor tempo, mais pontos o usuário consegue alcançar.

Em uma das fases de “Every word”, o termo "niggas", forma em inglês considerada ofensiva para se referir a negros, pode ser utilizada e o game reconhece como termo válido.

De acordo com o site Crunchgear, a palavra foi descoberta pelo usuário do Kindle Erik Deckers. Ele estava jogando o game e não conseguiu descobrir as últimas palavras para passar de fase. Consultando um gerador de anagramas, ele descobriu as tais três palavras, mas uma delas não era aceita pelo jogo. Ao selecionar a opção do game que resolve o problema automaticamente, Deckers encontrou o termo racista.

A Amazon informou que tirou o game do ar porque seu dicionário não bloqueia algumas palavras impróprias. A empresa disse em comunicado que criará uma nova versão do jogo e que lançará uma atualização para que os usuários que já possuem o título não tenham acesso ao conteúdo ofensivo.
 
Fonte: Blog Aldeia Griot

Dilemas da Inclusão Digital: inclusão agora, submissão ao mercado depois?

"Primeiro a inclusão, depois a expansão".

Em agosto, na segunda reunião do Fórum  Brasil Conectado, a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra faz uma apresentação contundente na qual a Economia da Informação tornou-se o centro da discussão. Em sua compreensão o brasil rural e urbano vivem juntos, e o empreendedor no Nordeste e Norte, o empresário no Sul e Sudeste e o fazendeiro no Centro-Oeste; a existência de gargalos e a conexão das regiões de menor densidade de acesso àquela de maior desenvolvimento econômico. Uma concepção que não mais contempla aquilo que desejamos para o País.

O Setor privado foi apresentado com aquele que irá fazer com que a banda larga chegue aos cidadãos, mas não foi problematizado com isto pode acontecer, ou como pode-se minimizar aquilo que historicamente foi a prática do setor privado, a manutenção de privilégios, gerador de desigualdades. Nesta lógica, o poder econômico acaba por "controlar" o ecossistema referido pela ministra. um ecossistema formado pelos empresários, os cidadãos, o setor privado, o empreendedorismo e o governo.

Assumir que "Apenas banda larga não resolve", é um passo positivo que podemos perceber neste discurso. Saber o que fazer com ela, também aponta para uma maturidade estratégica, mas, concerteza, temos que ter muito cuidado para que mais uma vez, aquilo que é apresentado com vetor de desenvolvimento para a nação, não seja o vetor de mais produção de desiguldades. Qua a internet rápida não seja apropriada por poucos e os poucos kbps previstos (512) nunca cheguem onde deveriam chegar: à toda população brasileira.

Agnaldo Neiva

Veja a íntegra do discurso da Ministra aqui...

Sai lista das 100 primeiras cidades a serem atendidas pelo PNBL

A Telebrás já tem uma meta de conexões à banda larga em 2010. Foi apresentada nesta quinta-feira, 26/8, no Fórum Brasil Conectado, a lista das primeiras 100 cidades do país, além de 15 capitais e do Distrito Federal, que contarão com oferta de backhaul da estatal e, com isso, acesso à internet dentro do teto de preço de R$ 35 como definido pelo Plano Nacional de Banda Larga.

Como já fora antecipado, o foco inicial é nas regiões Nordeste e Sudeste, mas também há cidades de Goiás e Tocantins. Também como esperado, há cidades mais pobres, mas algumas que podem ser consideradas prósperas, como Campinas e São Carlos, ambas em São Paulo. Sem contar as capitais, a população atingida chega a 14 milhões.

A divulgação da lista das 100 cidades, além de orientar a Telebrás, tem como objetivo atrair provedores de acesso interessados em utilizar a capacidade no atacado a ser vendida pela estatal. “Vamos precisar de parceiros entre os pequenos provedores e esperamos que, com o anúncio, esses parceiros apareçam”, diz o presidente da Telebrás, Rogério Santanna.

Os provedores existentes ou a existirem nessas cidades terão que calcular se há interesse em prestar acesso via rede pública com base nas premissas do PNBL. Ou seja, de que o preço do Mbps no atacado será de R$ 230 e o valor a ser cobrado dos assinantes por conexões de, pelo menos, 512 kbps seja no máximo de R$ 35.

Além disso, a Telebrás pretende adotar o padrão de oferta de 1 para 10 – ou seja, aquele que prevê que o megabit seja dividido, no máximo, por 10 clientes. “O mercado pratica uma padrão de 1 para 16 ou até 1 para 35. Isso quer dizer que os 512 kbps no padrão 1 para 10 terão performance até melhor do 1 Mbps no padrão 1 para 35”, afirma Santanna.

A seleção das primeiras cidades obedeceu a alguns critérios, especialmente de estarem situados a até 50 km da linha principal de fibras óticas do setor elétrico que será gerenciada pela Telebrás. Além disso, representam principalmente municípios com baixo IDH, reduzida proporção de acessos – em alguns casos, nenhuma – e a existência de programas como UCA (Um Computador por Aluno), Cidade Digital, Telecentro, etc.

No caso de não aparecerem parceiros em todas as cidades, há duas opções preparadas. A primeira, a troca de algumas cidades – e já existe uma lista com outras que obedecem aos mesmos critérios de seleção. A outra alternativa será, naturalmente, a prestação direta de acesso pela Telebrás, mas o objetivo é que isso só aconteça depois de o Comitê Gestor dos Programas de Inclusão Digital (CGPID) definir os critérios do que é a ausência de “oferta adequada” onde haverá competência da estatal atuar.

Além de possibilitar a venda de capacidade no atacado e, assim, induzir ofertas mais baratas de acesso à internet, a lista das 100 primeiras cidades inclui as capitais e, com isso, especialmente ao ligar Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, permitir que o governo tenha condições de, gradativamente, substituir os contratos de comunicação de dados em vigor com as operadoras privadas.

Lista das 100 primeiras cidades. Cique aqui.


Fonte: Guia das Cidades Digitais
 

26 de ago. de 2010

Rede Afro envia documento aos ministros do STF

A Rede Nacional de Negras e Negros Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais é um fórum nacional que agrega militantes do movimento negro e LGBT na luta contra o racismo, o machismo, a lesbofobia, a transfobia e a homofobia.


Manifestamos nosso veemente repúdio à cobertura da imprensa ao caso do ministro Joaquim Barbosa, fotografado em um bar em período de licença médica solicitada no Supremo Tribunal Federal, pelas insistentes "sugestões" de comportamento indevido – que beiram acusações e julgamento público. Os grandes jornais deram manchete ao caso e, sem ouvir o ministro, faziam ilações que não cabem à cobertura isenta dos fatos. Após a resposta do Dr. Joaquim Barbosa, a mídia destacou um "ataque" à equipe da matéria inicial da Folha de São Paulo.

Fica nítida, ao analisar as reportagens, a intenção de enfraquecer o ministro Joaquim Barbosa. A imprensa brasileira, acostumada a defender abusivamente os interesses da elite, não se preocupa em disfarçá-lo mesmo que comprometa sua dita "independência". No caso, os interesses são 1) os privilégios da elite branca que domina as redações e outros espaços de poder e 2) a impunibilidade dessa elite, que o ministro tem afrontado em sua atuação no STF.

Por que a imprensa não critica Gilmar Mendes pelos diligentes "habeas corpus" produzidos quando um banqueiro ou qualquer representante da classe dominante é preso sob graves acusações? Por que a imprensa não investigou o suposto esquema de grampeamento do mesmo ministro, da ministra Ellen Gracie e outros, em mais um caso "denunciado" pela Veja com participação ativa?

Se o ministro usou indevidamente sua licença médica, é uma questão que deve ser analisada no STF após consulta ao médico dele – e possivelmente a outros profissionais de saúde, para comprovação. Não cabe aos jornais emitir opinião a respeito de um elemento subjetivo, ainda mais sem pedir informações aos profissionais competentes.

A intenção desse documento não é defender o ministro de qualquer acusação. Isso ele mesmo pode fazer.

Ao contrário, os movimentos negros que assinam este documento repudiam as práticas abusivas de um jornalismo parcial e irresponsável. O que se torna notável no julgamento midiático do ministro é a intenção de questionar a competência do único negro do Supremo. É uma realidade conhecida de qualquer homem ou mulher negra em algum espaço de poder, que precisa provar diariamente que de fato pertence àquele lugar. No caso de Joaquim Barbosa, tem um fator especial: pela importância e visibilidade do cargo, atingi-lo afeta a toda a comunidade negra e suas perspectivas de ascensão social. O ministro é um exemplo positivo para a minoria de estudantes de direito e jovens advogados negros. Um perigo indesejável para o status quo!

Como resume a militante Deise Benedito, militante da organização Fala Preta e referência do movimento negro brasileiro, "Simplesmente o Dr.Joaquim Barbosa, até o presente, enfrenta com dignidade o Império que contra-ataca a insuportável existência de um 'ser', e este ser é um negro fora do lugar onde os negros devem permanecer nesta sociedade, que ergueu-se às custas do sangue e suor da carne negra importada da África para as Américas".

A imprensa tem um papel fundamental no exercício da democracia e das liberdades individuais e coletivas. No entanto, ao vincular sua atuação à defesa de interesses de grupos sociais dominantes, torna-se instrumento de incentivo e manutenção das desigualdades. É o que ocorre nesse caso, posicionando-se contra um ministro negro, apoiador das cotas raciais e correto na aplicação da justiça para a elite econômica. O movimento negro continuará observando os "deslizes" desse tipo de cobertura jornalística e denunciando seus abusos.

Fonte: Rede Nacional de Negras e Negros LGBT
Leia materia completa: Rede Afro envia documento aos ministros do STF
Portal Geledés

ENAP sedia 2º Fórum Brasil Conectado

23/08/10 - A ampliação da cobertura em banda larga, o preço a ser cobrado pelo serviço e a melhoria da qualidade da conexão serão debatidos no 2º Fórum Brasil Conectado, que ocorrerá na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) em 24, 25 e 26 de agosto. A abertura do evento, às 8h30min desta terça-feira, terá a participação da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Erenice Guerra, do coordenador do Programa de Inclusão Digital, Cezar Alvarez, e da presidente da ENAP, Helena Kerr do Amaral.

O Fórum compõe a agenda de implantação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), lançado pelo governo federal em maio deste ano com o objetivo de ampliar o acesso da população à internet em banda larga. O evento vai reunir representantes das operadoras de telecomunicações, da indústria fornecedora de equipamentos para o setor, de provedores de acesso à internet, associações de defesa do consumidor e governos federal, estaduais e municipais, em um total de 56 entidades, que vão discutir e propor ações para o PNBL.

A agenda de trabalho terá painéis de debates, que vão discutir temas como a rede nacional de infraestrutura, implantação de dutos e fibras em obras civis, estímulo aos fornecedores nacionais do setor de telecomunicações, os parâmetros de qualidade para a banda larga, o modelo de licitação com contrapartidas de interesse público, dentre outros.

Instalado em junho passado, o Fórum Brasil Conectado é vinculado ao Comitê Gestor do Programa de Inclusão Digital (CGPID), instância da Casa Civil da Presidência da República.

Fonte: http://www.enap.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1270

23 de ago. de 2010

Casos de Racismo Virtual - Um ano sem solução

Empresário ainda não consegue punição para ataques racistas feitos pelo Orkut


Cristina Camargo

Agência BOM DIA

O empresário João Francisco Xavier, 57, escolheu a última terça-feira (27 de abril) para descobrir o que aconteceu com uma denúncia grave sobre a pratica de racismo virtual.

A escolha da data teve uma razão: na terça-feira fez um ano que o dono de empresa de formação de vigilantes descobriu as ofensas feitas por meio do Orkut e tomou as providências que achava adequadas.

No meio do ano passado, Xavier relatou o caso ao BOM DIA. Estava indignado com a falta de providências quatro meses após ter procurado a polícia com as cópias das ofensas, o ataque virtual gravado e uma suspeita de autoria.

Na terça-feira, foi diferente. Ele foi ao 2º DP (Distrito Policial) acompanhado do advogado José Hermann Schroeder e saiu satisfeito.

Foi informado que a investigação continua e que o delegado pediu à Justiça uma ordem de quebra do sigilo do Google, responsável pelo Orkut, para descobrir o IP (Internet Protocol) do responsável pelas ofensas.

“A gente percebe que a apuração está andando. A passos lentos, mas andando”, comemorou na saída. A alegria durou pouco. O empresário e o advogado terminaram a tarde no Fórum, onde foram verificar a tramitação do pedido de quebra de sigilo. Tiveram uma surpresa, desta vez negativa: o pedido foi arquivado.

Agora, Xavier precisa esperar a resposta a um pedido de desarquivamento para saber o que aconteceu e tentar reverter a decisão. Está indignado, mas reafirma o que já havia dito: vai até o fim.

Ele considera que o ataque feito pelo Orkut foi a pior manifestação de racismo que já enfrentou. Um internauta que usou o pseudônimo de “Catturandi Polizia del stato”, referência à polícia italiana, deixou 19 recados na página com afirmações racistas, xingamentos e ameaças.

“Olha o macaco aí... Mete uma bala nessa coisa aí... Quer banana quer?”, escreveu num comentário.

Além de ficar chocado com a agressividade, Xavier não se conforma com a dificuldade em conseguir que as providências legais sejam tomadas. “Sou empresário, conhecido e sinto essa dificuldade. Imagine uma pessoa que não tem voz”.

Ministério Público cobra dados do Google

O Ministério Público Federal de São Paulo cobra do Google dados de pesquisa sobre remoção de conteúdo da internet. Segundo estudo da empresa, o Brasil é o líder de pedidos para remover conteúdos.

O Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público enviou ofício pedindo cópia dos dados fornecidos e que subsidiaram os números sobre o país constantes do relatório Google Requests, realizado e publicado pela empresa.

A procuradora da República Priscila Costa Schreiner, coordenadora do Grupo do MPF responsável pela investigação de casos de pornografia infantil e racismo na internet, questiona se os números citados se referem especificamente aos crimes de pornografia infantil e quer saber de que tipo de casos tratam os outros números sobre o país.

A distribuição de pornografia infantil na Internet é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Segundo a Constituição, o crime de racismo é inafiançável e a pena para quem incita a discriminação ou o preconceito por meio da Internet é de dois a cinco anos.

Xavier já atuou como vigilante

Xavier estava em Presidente Prudente na última terça-feira, mas decidiu voltar para Bauru e visitar o distrito policial no primeiro aniversário do ataque racista.

Em Prudente fica a filial da Marajox, empresa que ele abriu em 2006 e já formou mais de 16 mil vigilantes.

Ele mesmo já trabalhou como vigilante, em São Paulo. Foi quando percebeu a possibilidade de investir no setor. Também já foi militar e hoje recebe alunos de todo o país.

Bem sucedido após uma vida de esforços, não aceita a manutenção da prática do racismo. Chega a acreditar que o fato de ser um negro de sucesso provoque incômodo e os ataques.

“Sou negro, era pobre e atuava como vigilante. De repente virei empresário, sou conhecido no Brasil inteiro. Dói para algumas pessoas ver onde cheguei”, disse ao BOM DIA no ano passado.

A Marajox emprega cerca de 40 pessoas, entre funcionários diretos e indiretos [os instrutores].

“Em pleno século 21 isso ainda acontece...”, lamenta Xavier sobre os ataques que nunca mais vai esquecer.

Fonte: Rede Bom Dia

MPF faz parceria com provedores para combater crimes cometidos na rede

O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF/RJ) firmou no último dia 19 do corrente, uma parceria com cinco provedores de serviços e acesso à internet para combater e prevenir a pornografia infantil, racismo e outros crimes cometidos na rede. Com essa medida, o MPF/RJ acredita que o processo de investigação dos crimes virtuais será facilitado.


Os provedores se comprometeram a enviar ao MPF denúncias de crimes cometidos na internet, guardar os dados de acesso de usuários por pelo menos um ano, no caso dos provedores de serviço, e de três anos, no caso de provedores de acesso. Além disso, a parceira estabelece fazer, periodicamente, chamadas contra essas práticas e divulgar campanha governamental sobre esse tema.

De acordo com a procuradora da República Neide Cardoso de Oliveira, que faz parte do Grupo de Combate aos Crimes de Divulgação de Pornografia Infantojuvenil e Racismo, o trabalho do MPF será facilitado, pois os provedores de internet deverão filtrar em seus servidores páginas que contenham esses crimes.

“Antes, nós dependíamos da denúncia de particulares, mas acredito que agora será facilitado o nosso trabalho, pois o próprio provedor, verificando que algum usuário de seus serviços praticou algum desses crimes, deve nos comunicar. Os provedores já têm a obrigação de terem filtros para verificar se ocorrem esses crimes na utilização de seus serviços”, afirmou.

Segundo a procuradora, 80% das denúncias de crimes na internet são de sites de relacionamento, que já assinaram esse mesmo termo de compromisso com o Ministério Público Federal em São Paulo, cidade onde essas empresas mantêm seus escritórios.

Da Agência Brasil

Vídeo da Embratur foca turistas brancos na Copa

As cores do Brasil na Copa

Publicado por: Luiz Monteiro

O Melrose Arch é um complexo de lojas, restaurantes e cafeterias localizado numa das áreas mais nobres de Johanesburgo. Dois telões foram colocados no local para que as cerca de cinco mil pessoas que se concentram ali diariamente possam assistir aos jogos da Copa. Há muitos turistas e cidadãos sul-africanos que fizeram do lugar uma espécie de ponto de encontro para torcer ao ar livre. Nos palcos, bandas locais e internacionais têm dado “canjas” antes e depois das partidas, para animar ainda mais o ambiente.

Nos últimos dias, vi equipes da Embratur, o órgão responsável para divulgar o turismo no Brasil, na região, entregando folhetos, exibindo vídeos e tocando música popular brasileira nas praças do Melrose Arch. Achei uma bela iniciativa. Afinal, a próxima Copa é nossa, o país tem um potencial espetacular e precisamos sim, aquecer ainda mais nossa economia com o dinheiro que movimenta o turismo. A África do Sul que, para muitos leigos, é um país miserável, cheio de criancinhas esqueléticas passando fome, recebe por ano 3 milhões de turistas a mais que o Brasil. Resultado da boa estrutura que o mercado dos safáris movimenta no país. A propósito, esse cenário de país pobrezinho não é verdadeiro. E muita culpa disso é nossa, da imprensa. A South Africa, como eles dizem aqui, é um país de contrastes, como o nosso. Mas no geral, não fica devendo muito ao Brasil em termos de estrutura. As rodovias aqui se comparam às europeias. A frota de veículos é nova e moderna porque o imposto é razoável. Só para dar um exemplo, muitas viaturas da Polícia Militar são BMW, modelo 320. Algo que, sejamos sinceros, é impensável no Brasil, onde nossos policiais andam com veículos de motor 1.0.

Mas voltando às praças de Melrose Arch, nesta segunda-feira, dia de jogo do Brasil contra o Chile, a turma da Embratur montou duas banquinhas no meio da praça para pintar o rosto de torcedores com a nossa bandeira. Logo uma fila grande se formou. Como em muitos países, aqui nossa seleção recebe um carinho enorme das pessoas. Mesmo jogando esse futebol de resultados. De qualquer forma, massageia nosso ego ver milhares de torcedores não brasileiros usando uniformes da seleção pelas ruas de Johanesburgo. Eu e o cinegrafista Constâncio Coutinho aproveitamos a cena para gravar imagens no local. Mas, de repente, uma moça que assistia ao vídeo da Embratur no telão, enquanto aguardava sua vez de pintar o rosto, pediu licença para fazer uma pergunta. Imaginei que ela fosse pedir para ser filmada ou dar alguma declaração. É comum pessoas se oferecerem para serem entrevistadas por equipes de reportagens. Principalmente durante um evento como o mundial.

Só que a pergunta dela, por uns instantes, me deixou desconcertado. “Existem muitos negros no Brasil?”, quis saber. “É claro que sim”, respondi, para em seguida perguntar o motivo daquela dúvida. A senhora apontou para o telão e disse: “Por que não os vejo ali?”

Pedi licença por uns instantes e fiquei olhando para a tela gigante. Era um vídeo de divulgação de várias capitais: Salvador, Fortaleza, Curitiba. Em todas as cenas, atores de pele clara faziam o papel de turistas no vídeo. Na parte específica da capital baiana, onde os negros são quase 70% da população, os únicos de pele escura no vídeo eram baianas e integrantes do Bloco Olodum. Olhei para a senhora e para a fila onde ela se encontrava. A maioria das pessoas ali era negra. Gente simples que parou para desenhar a bandeira de “Ordem e Progresso” no rosto.

Parecia que eu tinha levado uma pancada. Fiquei meio atordoado em dar uma explicação àquela senhora. Respirei fundo, sorri, e disse que, infelizmente, para o mercado publicitário brasileiro, os negros praticamente não existem, apesar de formarmos quase metade da população do Brasil, “um país de todos”.

Na hora lembrei que em minha última viagem ao Brasil, prestei atenção em um intervalo comercial inteiro de uma grande emissora e não vi nenhum negro nas propagandas. Nem mesmo no bloco comercial de patrocinadores da transmissão de futebol, que inclui cervejarias e bancos como anunciantes, não identifiquei nenhuma pessoa de pele negra. Parei pra pensar e fiquei imaginando um Maracanã em dia de FlaxFlu sem nenhum torcedor negro presente. Uma roda de bar com apenas pessoas de pele alva bebendo cerveja. Ou passar quase uma hora para ser atendido numa fila de banco e não ver nenhum cidadão de pele negra, parado, esperando pacientemente os dois únicos caixas em operação atender os clientes no balcão.

O vídeo de divulgação do Brasil na África do Sul é isso. Mostra um país onde apenas pessoas de pele clara podem desfrutar de uma praia em Fortaleza, passar uns dias num hotel cinco estrelas em Salvador ou fazer um passeio pelas Cataratas do Iguaçu.

Não quero aqui fazer propaganda de cota para negros no mercado publicitário. Pode ser bom para atores negros garantirem uma vaga no mercado de trabalho. Mas pode ser constrangedor para alguém saber que só conseguiu uma vaga num “cast” publicitário porque uma lei obrigou alguém a contratá-lo e, não fosse isso, ele continuaria penando para provar que é capaz de fazer um bom trabalho.

PARA REFLETIRMOS SOBRE AS COTAS!!!

Mas exibir um vídeo sobre um Brasil só com artistas brancos, na África do Sul, onde 80% da população é negra, soa, no mínimo como gafe ou brincadeira de mau gosto. Há muitos problemas a serem resolvidos no país que sedia esta Copa. A burocracia aqui é excessiva, o serviço público é lento, a Aids atinge 10% da população e crimes como assassinatos e estupros são comuns nas favelas. Mas, apesar do pesadelo do Apartheid, a classe média negra africana é enorme, se compararmos ao Brasil. É comum vermos nas ruas de Johanesburgo e das grandes cidades, negros e negras de todas as idades dirigindo BMWs, Mercedes, Audis e Porshes. Não é raro ver negros morando em mansões. Algo que, sejamos sinceros mais uma vez, é raro no Brasil. Aqui, negros almoçam e jantam em restaurantes finos.

Para a classe média brasileira, assistir a um intervalo inteiro na hora do jornal, da novela ou do futebol sem nenhum negro em cena, é normal. Passa batido. Mas para alguém de pele negra que vê milhares de pares dentro dos ônibus, no trabalho ou na praia durante o dia a dia, e não consegue vê-los na TV, que deveria ser o retrato da sociedade, pode ser doloroso. Nunca esqueço de uma mãe que me abordou um dia, em Brasília, enquanto eu gravava uma reportagem na rua. “Sempre que o vejo na TV, digo ao meu filho que ele um dia também pode chegar onde você está”. A mulher era negra. Sentiu-se representada na tela quando viu um repórter negro “aparecer na televisão”.

Vai aqui uma perguntinha para a Embratur: se o objetivo é arrecadar com a venda de passagens aéreas, hospedagem, restaurantes e bilhetes em pontos turísticos, por que não escalam atores negros nas propagandas? Há um mercado fantástico de pessoas assim, no Brasil e no mundo, que tiram férias e têm um dinheirinho no bolso. Mas eles precisam se sentir parte desse mundo turístico.

Eu, por enquanto, só preciso de uma resposta mais convincente para dar à senhora do Melrose Arch.
http://www.institutoadediversidade.com.br/cultura/video-da-embratur-foca-turistas-brancos-na-copa/